Hoje, no ônibus, havia duas meninas conversando em
inglês. Elas estavam sentadas do meu lado, no outro lado do corredor.
Conversavam em um tom um pouco mais alto do que o normal. Eu não sei o porquê,
mas aquilo estava me incomodando muito. Talvez porque eu não estava conseguindo
me concentrar no meu livro. Aquela conversa parecia um diálogo entre dois
cd-rom’s da Positivo que ensinam inglês para crianças do ensino fundamental.
Acho que aquilo não estava incomodando só a mim. A
cada dez segundos, uma pessoa no ônibus olhava para as meninas. Elas não
paravam nem um segundo sequer. Por um instante, eu compreendi Osama Bin Laden e
seus aviões. Talvez ele estivesse em um ônibus tentando ler um livro e não
conseguiu por causa de dois americanos. Nunca se sabe.
Eu estava com muita raiva daquelas meninas. Mas agora
eu estou pensando: será que eu teria o direito de ter a mesma raiva direcionada
a qualquer outra pessoa ou grupo? Vejam isso, eu fiquei com raiva, cheguei em
casa e escrevi um texto falando que entendia Osama Bin Laden. Agora imaginem se
no lugar das meninas conversando em inglês estivessem... se no lugar delas... é
até difícil de escrever — não quero parecer preconceituoso... mas se no lugar
delas... não sei se eu devo fazer essa comparação... Ah! Eu vou escrever assim
mesmo... Imaginem se no lugar das meninas conversando em inglês estivessem
meninas conversando em russo. Será que eu teria o mesmo direito de escrever um
texto desse? Eu poderia dizer que eu teria raiva delas? Eu poderia dizer que
agora eu compreendia Stálin? Eu quero deixar essa reflexão para vocês.
Observações finais:
- Eu não acho que esse texto merecia estar aqui. Não
tem nenhuma situação extrema, nenhum absurdo, a não ser o fato de que eu estava
sentado e ao mesmo tempo em um 507.
- Por causa do título, você pensou que o texto
seria sobre algum gringo que queria conhecer o sistema Transcol?