Agora vou falar de um medo que eu tinha na escola, quando eu
era criança. Não só eu, mas acho que todo mundo tinha esse medo também. Quando
eu chegava um pouco antes da aula começar – o que não acontecia muito – e via
os moleques, um tentando empurrar o outro para dentro do banheiro, eu já sabia
que era um daqueles dias que davam muito medo. Apesar de parecer, até por ser
no SESI, aquilo não era uma tentativa de estupro dos viados... Era a Mulher do
algodão que tinha aparecido no banheiro. E no SESI, eles tinham muito, mas
muito medo da mulher do algodão. Não porque ela era um fantasma, mas porque era uma mulher!... Os viados falavam “tirem essa baranga daqui!!!” e saíam
correndo... Se fosse o Homem musculoso do algodão, duvido que eles iam ter
tanto medo assim... E, não sei por que, mas naquela época, eu achava que a
Mulher do algodão era feita de algodão. Já, hoje, eu não entendo por que eu
tinha medo... Ela era de algodão, porra!!!
Ela ia fazer o quê? Limpar o meu ouvido?... Eu era muito idiota. (ERA
sim. Por quê?). Pior do que eu, era meu amigo que achava que tinha uma mulher vendendo algodão-doce no banheiro.
Vocês se lembram do ritual para chamar a mulher do algodão?
Pode ser que na sua escola fosse diferente. No SESI, você tinha que xingar três
vezes e dar três descargas. A Mulher do algodão gosta de palavrões e do vaso
bem limpinho. Vai entender, né? O interessante é que você se fodia de qualquer
jeito. Se você desse descarga, aparecia a Mulher do algodão; se não desse,
aparecia a tia da limpeza, que dava tanto medo quanto.
Mudando de assunto, o SESI é uma das poucas – ou única – escolas
particulares que dão merenda – não sei se ainda dão; davam quando eu ainda
estudava lá. (Merenda é um nome escroto, não? Só usei porque não tinha outra
palavra melhor). Essa era a hora que a escola se vingava dos alunos. Tinha o
famoso pão de sal, que os moleques deram o apelido de pão borracha ou pão pedra.
O pão era muito duro, sério mesmo. Não era pão dormido, era pão em coma. Lembro
que, quando a mulher me entregava o pão, eu tinha que fazer o gesto como se ela
tivesse me dado um peso de 20 quilos. Tinha uns alunos que juntavam um monte e
levavam pra casa para o pai construir mais um cômodo... O suco, todo mundo
sabe, era água colorida, mas o de limão... era água sanitária aquela merda.
Você bebia e saía aquela fumacinha da sua boca... O cardápio era pegadinha com
alunos. Tinha pão com mortadela, mas sem mortadela. Pão com presunto, mas sem
presunto. Pão com queijo, mas sem queijo. Pão com manteiga... mas sem pão... os
moleques ficavam lambendo a mão. A cena era bonita. Teve um dia que foi caviar.
Na fila, uma mulher falava “hoje é caviar” e colocava no seu prato, aí você
dava um passo e outra mulher falava “mas sem caviar” e tirava do seu prato.
Observações finais:
- Esse último parágrafo eu falo desde quando eu tinha 12 anos,
por isso é tão idiota. :/
- Mulher do algodão é Loira do banheiro em alguns outros
lugares.
- Postado 01/10/13
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